segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A pipa e a flor


Um menino confeccionou uma pipa. Ele estava tão feliz, que desenhou nela um sorriso. Todos os dias, ele empinava a pipa alegremente. A pipa também se sentia feliz e, lá do alto, observava a paisagem e se divertia com as outras pipas que também voavam.
Um dia, durante o seu vôo, a pipa viu lá embaixo uma flor e ficou encantada, não com a beleza da flor, porque ela já havia visto outras mais belas, mas alguma coisa nos olhos da flor a havia enfeitiçado.
Resolveu, então, romper a linha que a prendia à mão do menino e dá-la para a flor segurar. Quanta felicidade ocorreu depois!
A flor segurava a linha, a pipa voava; na volta, contava para a flor tudo o que vira.
Acontece que a flor começou a ficar com inveja e ciúme da pipa.
Invejar é ficar infeliz com as coisas que os outros têm e nós não temos; ter ciúme é sofrer por perceber a felicidade do outro quando a gente não está perto.
A flor, por causa desses dois sentimentos, começou a pensar: se a pipa me amasse mesmo, não ficaria tão feliz longe de mim...
Quando a pipa voltava de seu vôo, a flor não mais se mostrava feliz, estava sempre amargurada, querendo saber com quem a pipa estivera se divertindo.
A partir daí, a flor começou a encurtar a linha, não permitindo à pipa voar alto. Foi encurtando a linha, até que a pipa só podia mesmo sobrevoar a flor.
Esta história, segundo conta o autor, ainda não terminou e está acontecendo em algum lugar neste exato momento.
Há três finais possíveis para ela:
1 - A pipa, cansada pela atitude da flor, resolveu romper a linha e procurar uma mão menos egoísta.
2 - A pipa, mesmo triste com a atitude da flor, decidiu ficar, mas nunca mais sorriu.
3 - A flor, na verdade, era um ser encantado. O encantamento quebraria no dia em que ela visse a felicidade da pipa e não sentisse inveja nem ciúme.
Isso aconteceu num belo dia de sol: a flor se transformou numa linda borboleta e as duas voaram juntas

Rubem Alves

Alice e o gato


-“Poderia me dizer, por favor, que caminho devo tomar para ir embora daqui?”
- “Depende bastante de para onde quer ir”, respondeu o Gato.
- “Não me importa muito para onde”, disse Alice.
- “Então não importa que caminho tome”, disse o Gato.
- “Contanto que eu chegue
a algum lugar“, Alice acrescentou à guisa de explicação.
- “Oh, isso você certamente vai conseguir”, afirmou o Gato, “desde que ande o bastante”.
Aventuras de Alice no País das Maravilhas, Lewis Carroll.
Trad. Maria Luiza X. de A. Borges (Zahar, pg 77)

Escola é o lugar da escuta

É preciso que se compreenda a diferença entre ouvir e escutar. Ouvir é um fenômeno fisiológico. Escutar pressupõe tentar adivinhar o que está obscuro. Podemos estabelecer uma analogia com esse processo da escuta através dos conceitos da psicanálise: ego, o que eu conheço de mim; id, o que eu não conheço (vem pela arte); superego, o que gostaria de ser. O ego é o campo da dor, da alegria, da indiferença, dos medos. O eu é feito de pedaços do outro. Tudo é do outro. Escutar é permitir a presença do outro. O aluno que eu escuto vem morar em mim. A presença do outro me completa.(Bartolomeu Campos de Queirós)

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Por um futuro menos Tiririca...


Os futuros imaginários nos quais acreditamos há 45 anos precisam ser reformulados, pois se baseiam numa utopia tecnológica. A internet é uma ferramenta útil, não uma tecnologia redentora. Damos poder demais à tecnologia, e assim ignoramos que nós mesmos somos seus criadores e podemos intervir no futuro como quisermos. Esse fetichismo tecnológico deve ser combatido. O futuro, portanto, deve se pautar não pela tecnologia, mas pelos seres humanos. Só poderemos fazer algo concreto a respeito do futuro quando tomarmos consciência de que ele pode ser diferente daquilo que nos é oferecido.

Richard Barbrook Arte: Fabrini
in professor texto.