quarta-feira, 14 de abril de 2010

Diário de Bordo


"O que vou fazer é, simplesmente, explorar algumas palavras e tratar de compartilhá-las.
E isto a partir da convicção de que as palavras produzem sentido, criam realidades e, às vezes, funcionam como potentes mecanismos de subjetivação. Eu creio no poder das palavras, na força das palavras, creio que fazemos coisas com as palavras e, também, que as palavras fazem coisas conosco. As palavras determinam nosso pensamento porque não pensamos com pensamentos, mas com palavras, não pensamos a partir de uma suposta genialidade ou inteligência, mas
a partir de nossas palavras. E pensar não é somente “raciocinar” ou “calcular” ou “argumentar”, como nos tem sido ensinado algumas vezes, mas é sobretudo dar sentido ao que somos e ao que nos acontece. E isto, o sentido ou o sem-sentido, é algo que tem a ver com as
palavras. E, portanto, também tem a ver com as palavras o modo como nos colocamos diante de nós mesmos, diante dos outros e diante do mundo em que vivemos.
E o modo como agimos em relação a tudo isso.
O homem é um vivente com palavra. E isto não significa que o homem tenha a palavra ou a linguagem como uma coisa, ou uma faculdade, ou uma ferramenta, mas
que o homem é palavra, que o homem é enquanto palavra, que todo humano tem a ver com a palavra, se dá em palavra, está tecido de palavras, que o modo de viver próprio desse vivente, que é o homem, se dá na palavra e como palavra. Por isso, atividades como considerar
as palavras, criticar as palavras, eleger as palavras, cuidar das palavras, inventar palavras, jogar com as palavras, impor palavras, proibir palavras, transformar
palavras etc. não são atividades ocas ou vazias, não são mero palavrório. Quando fazemos coisas com as palavras, do que se trata é de como damos sentido ao que somos e ao que nos acontece, de como correlacionamos as palavras e as coisas, de como nomeamos o que vemos ou o que sentimos e de como vemos ou sentimos o que nomeamos."

“Se diria que todo lo que pasa está organizado para
que nada nos pase”
(JORGE LARROSA)

Essas palavras vieram até mim ontem à noite quando, depois de chegar da aula,
fui navegar um pouco na grande rede. Não as encontrei por acaso... foram enviadas a mim por uma amiga extremamente especial que ousou semear belas palavras em meu e-mail.
Palavras...
Belas e verdadeiras palavras...
Muitas vezes fogem, escapam de nós e se escondem no imaginário. Depois surgem...
do nada e, como avalanches, derraman-se em nosso meio suplicando ( no meu caso) que as eternizem em papéis ou, até mesmo em livros digitais, onde são conduzidas, serenamente no imenso oceano virtual...
Como diria uma das grandes mestras de nossa Literatura: " Ai, palavras, ai palavras, que estranha potência a vossa!!" Estranho poder, estranho domínio sobre mim... Não sei se cuido delas, mas certamente me dominam, cuidam de mim também!!
Ai, palavras... nem sempre precisam de som. Silenciosas elas falam onde o som não ousa chegar. E encantam ou desencantam com a mesma maestria, com a mesma sutileza.
"Que estranha potência a vossa..."
Depois que as palavras de minha grande amiga ancoraram no meu barco virtual, fiquei ali alguns instantes lendo e relendo... decifrando cada espaço, cada pedacinho de palavra...
e, " foram ditas de dentro dos lábios (ou das mãos!!!)...
e isso é o que é mais legal!!
Às vezes fico pensando em como sou uma falante silenciosa...Paradoxos à parte, mas elas (as palavras) sempre brotam por aqui e me fazem falar, falar, falar... silenciosamente, até porque no caminho por onde elas surgem e navegam, é caliente e o iceberg da timidez derrete-se facilmente...serenamente...



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