sexta-feira, 11 de julho de 2014

Paixão sem placar



        Sempre tive o futebol como uma das minhas paixões, talvez por ter tido pai peladeiro que levava eu e meu irmão aos jogos e nos ensinava a respirar futebol em casa, não sei. O que sei é que deixo muito marmanjo machista caladinho no que se refere a discutir com coerência sobre os jogos e o que circula nesse meio. Nesse aspecto fujo das minhas características e nem de longe lembro a menina tímida que muitos conhecem. Sou fã do futebol brasileiro, futebol arte, jogado com garra e com uma técnica que não a toa nos deu cinco títulos mundiais. Porém em minhas conversas, em meus momentos de comentarista, desde o início enxerguei uma seleção e um país que insistia em dar brilho a só uma estrela que brilhava e ofuscava, ou escondia mesmo, os defeitos que o conjunto possuía. Muitas vezes esses meus comentários foram  mal interpretados e soavam como se eu estivesse avessa, contrária ao meu país. Não, nunca torço contra minha seleção, mas isso não me torna cega. Isso não me faz enxergar a existência de grupos mais bem plantados, que possuem um conjunto que joga com harmonia, como uma grande orquestra. Futebol é conjunto, é equipe. Lances de individualismo existem, assim como alguém com um talento a mais que quando se mais precisa aparece para decidir, porém, mesmo assim, para que isso ocorra tem que haver um equipe sólida para dar cobertura. Isso é futebol, independentemente da nacionalidade que esteja sendo defendida.
            O escritor e jornalista esportivo Carlos Heitor Cony disse que deixou de acreditar em Deus quando viu o Brasil perder para o Uruguai no Maracanã, em 1950. E o que dizer diante da chacina ocorrida no Mineirão diante da Alemanha? 
Uma partida de futebol não dura só 90 minutos. Dependendo de seu desfecho ela pode durar uma vida inteira. O tempo jamais apaga da memória dos expectadores determinados momentos. Eles carregam em flashes e são testemunhas vivas daquele momento seja ele feliz ou não.  Brasil x Alemanha não acabou quando o árbitro prostrou-se ao meio campo  e encerrou a partida. Ainda está rolando... e vai demorar muito para nossa memória projetar o fechar dos portões, a ida silenciosa para casa de uma legião que  parecia estar saindo do  velório de um ente querido, o apagar das luzes do palco eternamente marcado, o silêncio mórbido quebrado apenas por grilos e outros minúsculos bichinhos noturnos que alheios a isso tudo, perambulavam pelo tapete verde em busca de alimento...
         Não fui testemunha do Maracanazo de 50.  Tentava imaginar como seria o gostinho de uma copa dentro de nossa casa. Por isso me dei o direito de ir a dois jogos e, embora não tenham sido de minha seleção, me senti realizada com toda aquela atmosfera futebolística aliada a um nacionalismo e à alegria de povos de várias nações. Por momentos me vi criança diante de um brinquedo mágico e insistentemente desejado. Olhar marejado, sorriso escancarado e uma alegria singular... Era uma linda mistura de cores, de sons, ritmos e falares... uma sensação que nem todos conseguem sentir. 

           O desfecho final para nós foi o pior pesadelo, apesar de sabermos que nossa seleção não estava bem. O que senti diante disso tudo? raiva. Decepção.E isso doeu...  doeu porque vi um povo de mãos dadas, unido em duas cores demonstrando o orgulho de pertencer a essa terra, apesar de todos os problemas. Doeu porque vi crianças às lágrimas diante da queda de seus heróis preferidos. Doeu ainda por ver homens aos prantos, decepcionados pela derrota que tirou deles a imagem de super heróis invencíveis que a mídia  colocou neles. Apesar da dor, da raiva, da decepção, da educação e da saúde pública precárias, da corrupção, da violência... sou filha dessa terra. Sou brasileira. O verde e amarelo são as cores que sempre estarão correndo em minhas veias junto com o rubro do meu sangue. É esse o país que amo e esse amor é muito , muito maior que qualquer resultado de uma partida de futebol.

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