segunda-feira, 17 de maio de 2010

Aprender


Aprender é a maior prova de maleabilidade do ser humano, porque, mais que adaptar-se à realidade, passa a nela intervir. Sendo atividade tipicamente reconstrutiva de tessitura política, é também a maior prova do sujeito capaz de história própria. Saber aprender é fazer-se oportunidade, não só fazer oportunidade. Deixa-se de lado a condição de massa de manobra, objeto de manipulação, para emergir como ator participativo, emancipado.
Retomamos aqui o sentido de autonomia, que precisa ser todo dia conquistada e reconstruída. (...)
Na verdade evita-se estudar. Estudar significa dedicar-se a atividade sistemática de estilo reconstutivo, com base em constante elaboração própria, lendo autores para nos tornarmos autores. Não é absorver passivamente conhecimento alheio, muito menos “colar”. Estudar para a prova é o que há de menos importante na sala de aula, porque retrata artificialidade total as situações concretas da vida. Nem adianta inventar prova com consulta, porque ainda é prova. Faz-se necessário afastar a prova e avaliar de outros modos, sobretudo acompanhando a produção constante de conhecimento, com devida orientação e tendo o aluno sempre o direito de refazer enquanto houver tempo hábil. Ao mesmo tempo, estudar implica outra forma de ler. Trata-se contra-ler, no sentido de saber questionar o autor, interpretar seus argumentos centrais e refazê-los com mão própria, compreender seu contexto e suas bases teóricas e metodológicas, passar por dentro do livro e não pelas orelhas. Não se faz isso com todo livro, mas com aqueles que são centrais para a nossa aprendizagem. Ao ler um livro, é fundamental fazer-se sujeito, porque lemos autores para nos tornarmos autores.”
(Pedro Demo) Arte: Lacey Terrel

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