sábado, 19 de setembro de 2009

Diário de bordo 2

Preliminares:

O que se há de fazer no resto do dia quando se passa uma parte da manhã no hospital em um processo alérgico provocado por um anti-inflamatório receitado após uma pequena cirurgia?
O que se há de fazer no resto do dia quando se toma uma daquelas injeções antialérgicas que parece que perfuram a alma, dá um sono imenso e o médico manda ficar 48 horas de repouso? O mais sensato diria: - Descanso!! Nada de dar aulas, nada de ir às aulas... Mas... "no meio do caminho tinha a aula de dinâmica de grupo , tinha uma aula de Dinãmica de grupo no meio do caminho"
( ou seria Dinâmica de minha Superação?)

Bem, a verdade é que as palavras do médico, a dor da injeção e os resultados da alergia pareceram pequeninos diante de minha vontade de ir àquela que poderia (?) ser a última aula devido aos desencontros das coordenações...
Nem é preciso dizer que minha mãe ficou falando, falando... (como falam todas as mães e falam os sensatos diante de uma situação dessas!)

Passei a tarde literalmente "grog", "dopadérrima", sonolenta... mas no primeiro toque do alarme do celular, ignorei o incômodo do local da injeção e fui para mais um desafio, para mais uma aula.

A aula

Ia começar tudo de novo...
a avalanche de sentimentos, o medo, tudo...tudinho do mesmo jeito. A diferença era que além das dores rotineiras, agora doía o local da injeção...(rsrsrsrs) o ideal seria uma aula light, sem esforços...
Mas... foi a mais agitada de todas até agora! Quando o comando era dado pra se movimentar, pra aquecer, minha perna suplicava: - Não vá! Não faça isso!!!!
mas... a falta de coragem pra falar o que ocorrera, o medo de ser "tachada" de irresponsável por desobedecer ordens médicas me faziam ficar em silêncio e ocultar o que se passava... me faziam esconder a dor e o incômodo das reações da alergia que incomodavam bastante, além do sono provocado pela medicação...

Diante disso quando lembrava que poderia ser a última vez, lembrava de todos os sentidos da palavra SUPERAÇÃO. Lembrava da frase do meu filme preferido... "Carpe Dien"! e de algumas palavras do grande Mário Quintana: "Quando se vê, já são seis horas!/Quando se vê, já é sexta-feira.../Quando se vê, já terminou o ano.../Quando se vê, passaram-se 50 anos!/Agora, é tarde demais para ser reprovado..."
Então não poderia perder a oportunidade...apesar de tudo.Tinha que aproveitar o momento. Aproveitar a chance que tenho recebido pra tentar, não digo acabar, mas diminuir, me habituar, controlar um pouco essa timidez e, sobretudo esse medo imenso que não sei de onde vem, porém me aprisiona de um jeito inexplicável.

Uma volta...
A segunda aula, confesso que mecheu mais comigo por causa da técnica de mostrar o seu lado, ´seu EU. Limitei-me a mostrar apenas as imagens, os meus "céus"...sem usar explicações para o porquê das escolhas. Tentar provocar minhas palavras alí, naquele momento, seria "inflamar" nuvens pesadas... seria acordar fantasmas e fazer o meu EU chover...
Não me permiti...iria me sentir em plena terapia, só que com inúmeros olhares, diversas interpretações . E isso pra mim não é legal. Pensei em nem mesmo mostrar o que escolhera e sair da sala (estava sufoacada...), mas sei que iria ser cobrada pela omissão e consegui só mostrar, sem provocar meus sentimentos nem despertar minhas lembranças.
A volta da borboleta mágica de Ziraldo foi fantástica! Agora, porém, o bater de suas asas deu-se à noite... mas a condução de seu voo, deu-se da mesma maneira singela e emocionante. Mais um momento pra guardar no coração...

Um Balanço após três encontros...
Na última aula, como já conhecia uma das dinâmicas, não deixei minha amiga se afastar de mim, nossos passos eram dados na mesma direção e quando saímos, saímos juntas. Lembrei da aula de p6 e de meu amigo de educação física que também atendeu aos meus pedidos para não me deixar sozinha. No momento de avaliação, as palavras não ousaram sair, talvez se me fosse permitido escrever, desenhar, pintar... as coisas seriam diferentes...

Como já havia falado, tenho encarado a disciplina como uma grande tentativa de me superar, de vencer meus medos, de tentar derrubar ou ultrapassar as barreiras que eu mesmo construí em meu caminho. Cada aula é um desafio novo, uma prova de fogo onde há pessoas muito especiais que estão alí, me dando forças, me empurrando. É fácil enfrentar seus limites? não é. Pelo contrário, a vontade de recuar diante de uma situação de exposição é imensa. A confusão de sentimentos parece que chicoteia meu corpo e me amordaça... pode parecer um exagero, mas é a mais pura verdade...
Tenho plena convicção que alguma coisa vai ficar. Acredito que mesmo após três aulas, já é possível dizer que há conquistas. Pequeninas, é verdade, mas consigo vê-las. Consigo acreditar que estou no caminho certo...
Às vezes me questiono:- Será que isso é real?
- Será que existe essa disciplina que me permite brincar, que me dá a chance de tentar driblar essa timidez louca que carrego comigo?
- Como pode haver algo assim na terra dos "dragões que cospem fogo?"
Tenho descoberto que existe, e que é real!
Como eu posso ter outra oportunidade de "brincar no carrossel mágico?" de me encher com o pó do pirimpipim? de receber os brinquedos de letras novamente, agora não mais sob a luz do sol, mas sob o brilho das estrelas...?
Tenho que aproveitar... só isso.

Sinto que pode ser um divisor de águas... antes e depois de Dinâmica de Grupo...
antes e depois da tentativa de um eu que vive preso, andando livre pelas ruas se encontrar e conseguir navegar serenamente, vencendo as tempestades, ignorando os fantasmas...


P. S. Pelo andar da carruagem, terei que puxar o freio de mão quando estiver escrevendo
o ensaio...rsrsrsr

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